(...) o espaço físico onde, actualmente, se localiza este país chamado Portugal, tem sido submetido a influências diversas (...). Temos, hoje em dia, consciência da importância transcendental de disciplinas como a arqueologia no conhecimento do passado, e como tal, de nós mesmos.
Segundo Adriano Vasco Rodrigues, em Arqueologia da Península Hispânica editado pela Porto Editora e a páginas 16, «a arqueologia sem o romantismo não seria possível. Foram os românticos dos finais do século XVIII e dos inícios do XIX que espalharam o gosto pelas ruínas do passado e o interesse na decifração dos seus mistérios.»
Por outro lado, é sabido e reconhecido que os registos da nossa memória colectiva correm o risco de desaparecerem. Isto apesar e precisamente no momento em que começamos a estar mais bem apetrechados para os abordar e compreender com mais profundidade. Fruto de uma grande inconsistência, de uma grande falta de esclarecimento, de um desinteresse generalizado da opinião pública.
O património cultural, nomeadamente o arqueológico, é um bem colectivo de valor e significado incalculável, dinâmico e polivalente. Importa assim que o maior número de pessoas compreenda, acarinhe e conviva de perto com o quadro e os testemunhos culturais que o passado nos legou.
Nos dias que correm, quando deveria ser exactamente o inverso (visto que os níveis de literacia têm aumentado de forma constante e a bagagem educativa, em termos de anos escolares, é hoje superior ao passado), é desolador verificar o desinteresse geral, quer seja ele da (des)opinião pública, das autoridades e do público em geral.
A pré-história portuguesa desenvolveu-se desde os primeiros habitantes do território até à Idade do Cobre (Calcolítico) e Idade do Bronze. Chama-se pré-histórica porque é anterior à escrita, e quando não existe documento escrito não existe história no seu sentido restrito.(...) A pré-história é um terreno longínquo? De certa forma sim, os vestígios que dela temos são fragmentários, dispersos e inconstantes. E quando com eles tomamos contacto, a primeira sensação é a de que estamos perante uma realidade estranha, improvável, inesperada muitas vezes. (...) Estes homens falam uma outra linguagem, professam uma cosmovisão que nos é, em larga medida, alheia. E porque resistem particularmente à nossa tentativa de explicação globalizante, ao nosso esforço de recuperar a memória até às raízes, atraem-nos como todas as miragens que julgamos poder abarcar como um abraço e, afinal, logo se apartam de nós, para melhor continuarem a exercer o seu fascínio, com a sua inigualável e inatingível omnipresença.
O nascimento oficial do estudo da pré-história em Portugal surge com a fundação da "Academia Real da História Portuguesa" em 1720, apoiada, em 1779, pela Academia Real de Ciências de Lisboa. Ambas se destacaram, numa primeira fase, essencialmente pela inventariação. Mas na sombra destas academias, destacar-se-iam os nomes que haveriam de dar ao futuro o conhecimento do passado remoto. Frei Manuel Cenáculo Vilas Boas, bispo de Beja e arcebispo de Évora, o primeiro investigador em Portugal a utilizar a escavação arqueológica como meio e forma de esclarecer as questões de natureza histórica no século XVIII. Mas outros surgiram como o grande Francisco Martins Sarmento, Estácio da Veiga, José Leite Vasconcelos. A estes homens, sobretudo, se deve o conhecimento do passado pré-histórico português, foram eles que lançaram as bases de explicação e escavação arqueológica que permitiram avanços significativos na área. (...)
Passados tantos anos, sentimo-nos impotentes perante a falta de interesse generalizada sobre o tema. Tudo é uma fatalidade numa era que vive o apocalipse tecnológico, onde a invenção de hoje amanhã já está obsoleta. A tecnologia de massas veio acabar de vez com a pouca lucidez de uma sociedade que vive num estado perpétuo de paranoía colectiva, em que o mimetismo, a iliteracia funcional e o selfismo da alma e do corpo são as suas únicas preocupações.
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