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Economia, sociedade e violência

(...) A violência na sociedade de mercado é omnipresente, endémica e evidente em todos os domínios da actividade social. Instala-se sob as formas mais insuspeitadas e nos interstícios mais recônditos da sociedade. Banaliza-se a morte violenta como consequência menor da acção legítima ou determinada pelo livre arbítrio individual. Promove-se o acto de matar e incentiva-se a destruição em nome do interesse particular, transitório e momentâneo. O que acontece adquire legitimidade pelo simples facto de acontecer. Desde os filmes e das séries de televisão, começando pelas infantis, oas jogos de vídeo, desde os sites da internet às letras das músicas e à linguagem corporal dos executantes, desde os eventos desportivos às relações interpessoais e às próprias declarações dos responsáveis políticos, verifica-se a prática sistematizada da apologia da violência sob todas as formas e através de todos os exemplos que legitimam e elogiam os comportamentos violentos.

A agressividade e a violência destrutiva são perspectivadas como capacidades acrescidas de exercício do poder. A violência adquire, assim, o estatuto de instrumento de uso legítimo, facultativo e corrente para a resolução de todas as problemáticas, diferendos e conflitos de interesse gerados pelo mercado na sociedade por ele regulado e dominada.

(...) As manifestações da sociedade civil, inorgânicas ou tacticamente enquadradas por organizações, movimentos e redes transnacionais, tornam-se num fenómeno do quotidiano, frequentemente caracterizadas pela agressividade das multidões, marcadas pela violência gratuita expressa na criatividade gratuita de um "caos urbano" anunciado e anarquizante, em nome de nada, ou de tudo e do seu contrário. Neste ambiente de degradação social, de relativização evolutiva da ética, da apologia do comportamento amoral e da falta de referências, evidentes na negação programada e sistematizada dos valores e dos mais elementares princípios de convivência cívica e da tolerância democrática, factores intrínsecos, estruturais e estruturantes do estado de direito, ignora-se o significado da "utilidade social do respeito". 

(...) A corrupção alastra e aperfeiçoa-se. Condiciona e contagia a produção jurídica através da introdução de cláusulas escapatórias que interferem com o funcionamento da justiça, e de pressões exercidas sobre o respectivo aparelho. O convite à sua denúncia em nome da transparência tem, como resultado frequente, consequências negativas para os denunciantes. Generaliza-se a desconfiança entre eleitores e eleitos, entre dirigentes e contribuintes, entre elites e opinião pública, entre a sociedade civil e as instituições de enquadramento social, político e jurídico.

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