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O choque de civilizações

O Islão apresenta-se, nem sempre mas muitas vezes, como uma "entidade" complexa e multiforme, sem um centro institucional, onde para lá das divisões entre sunitas e xiitas e algumas de ordem política e estratégica, a palavra de ordem é a conquista do mundo segundo a sentença de Maomé. Toda a terra "é uma mesquita", mas apesar da diversidade de doutrinas, de atitudes e de organização, tal como de povos e de línguas, existe uma só comunidade de crentes, a umma, e uma só lei, a charia.
A umma "é o estado final da humanidade enquanto verdadeira comunidade do povo eleito". Esta pretensão pode perfeitamente ser encaixada na categoria de um neo-gnosticismo, ou seja, a crença de que a unidade da humanidade será uma realidade. O que não passa de uma utopia como tantas outras.
Este pan-islamismo da umma, nesta versão particular e radical, fecha o círculo da visão ofensiva da jihad.
Existem países muçulmanos que aceitam a laicização ocidental, outros nem pensar nisso, e outros ainda ficam-se num meio termo. Mas na grande maioria dos países muçulmanos o Islão continua a ser o critério supremo de identidade do grupo e de lealdade. Segundo o Islão, o Ocidente é um erro teológico, uma realidade corrompida e decadente, responsável pela degradação moral do mundo. Se em parte estas afirmações estão correctas, os islâmicos deveriam antes de tudo, olharem-se ao espelho e assim compreenderem os seus próprios defeitos, as suas realidades corrompidas, os seus mais do que muitos erros teológicos e as suas decadências muito particulares. Mas já se sabe que não existe reciprocidade, o Islão exige respeito e reconhecimento mas não respeita nem reconhece nada exterior à sua realidade.
A incompatibilidade entre o Islão e o Ocidente gera um choque de civilizações, muito mais do que um choque de religiões, isto pelo facto de no Islão não haver distinção entre a esfera política e a esfera religiosa. O principal alimentador deste choque não está no fundamentalismo, mas antes na natureza muito particular do islamismo, que não esquece o seu colonialismo dos inícios da Alta Idade-Média e que chora a perda do Al-Andaluz, e o domínio durante séculos dos europeus sobre as nações islâmicas.

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