O gnosticismo, ou mais exactamente, o neognosticismo, é considerado segundo Voegelin, como um sistema de crenças que nega e rejeita a
estrutura da realidade, em particular, a da natureza humana sendo esta
substituída por um mundo imaginário idealizado por pensadores gnósticos e
controlado por activistas gnosticistas. [qualquer semelhança com a
actualidade é pura coincidência?]
Deste primeiro "ismo" surgiram todos os outros "ismos" o que deu origem
ao nascimento das religiões políticas do século XIX e XX. Segundo a
definição de Voegelin, a religião política é uma nova categoria de
pensamento gerada por um grande movimento de massas. As religiões
políticas, e sempre segundo Voegelin, ancoram-se no gnosticismo que
recusa a estrutura da realidade. Essa recusa provoca a rejeição de uma
ordem superior e divina, derivando para um mundo imaginário onde surgirá
"o novo homem e o novo mundo".
A escatologia imanentista da civilização.
Voegelin realça ainda que a deriva gnosticista operou-se através da
lenta revolta egofánica do ocidente; o homem deixa as teofanias para se
concentrar sobre o ego, um fenómeno cujo ponto culminante foi, segundo
Voegelin, a "divinização" do homem nas obras de Hegel, e sobretudo de
Comte e Marx.
Para dar alguns exemplos concretos, basta referir por exemplo, o
ambientalismo que exige que a população tenha uma posição política
diante do planeta, com métodos e atitudes bem totalitárias e também por
exemplo, o gayzismo que exige que toda a gente tenha uma opinião
favorável ao movimento, querendo ainda ser reconhecido como modelo e
virtude a adoptar num futuro próximo. Não é por acaso que se pretende
chamar "casamento" a uniões desse género. O conceito de igualdade tão
amplamente apelado pelo neognosticismo, é um produto tóxico da
"divinização" acima falada.
Mas Voegelin vai ainda mais fundo, num livro intitulado "Politique,
Religion et Histoire chez Eric Voegelin" - Thierry Gontier na página 116
é dito (traduzido para português): «O que me parece particularmente
notável, aqui, é a forma como Voegelin segue as metabolizações de
representações «satânicas», transferidas sob múltiplas «contra-figuras»
das unidades nacionais e étnicas. Por exemplo, no nacionalismo alemão, a
divinização da nação, criada por Fichte, na sua Staatslehre, ao
nível do reino de Deus, tendo como contragolpe os primeiros sucessos de
Napoleão (...) Fichte designa napoleão pelo «homem sem nome», comparado
à besta do apocalipse.» Nas páginas seguintes do livro é dito ainda
que Fichte é interessante no plano analítico do
pensamento voegeliano relativamente às doutrinas de Joaquim de Fiore e
do seu esquema trinitário da interpretação da história mundana, assim
como o facto de Fichte achar que a divinização da nação alemã se devia a
Lutero.
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