Onze dias após a implantação da
república, Ramalho Ortigão escrevia a Teófilo Braga:
«Nada, em política,
me é mais profundamente antipático do que o votismo e o
parlamentarismo, que eu considero os destruidores agentes da capacidade
administrativa.»
Não será necessário aqui transcrever as palavras de justa e viva
ironia com que Eça de Queiróz mimoseou o regime da urna e do voto. Os partidos (actual partidocracia, e não democracia) são extremamente simpáticos aos teóricos da democracia pura, por serem considerados
factores de divisão, e incompatíveis com a unidade e a homogeneidade da
nação, que no fundo é o que lhes interessa. Dividir para reinar.
Qualquer eleito de qualquer democracia de votos na urna (é ver o
pleonasmo que esta última palavra encerra) é obrigado a ludibriar as
massas, servindo uma multidão de interesses particulares, os quais,
quase sempre, se opõem ao interesse da nação.
O ludibrio das massas faz parte do
ideário de todos os partidos políticos, sejam eles de direita disfarçada
(como o actual PSD), sejam eles da merda esquerdista (como Bloco de
esterco e PC), ou ainda do socialismo podre (PS), sem esquecer os
democratas cristãos (que sacrilégio!) do CDS.
A propaganda republicana pré 1910, tinha prometido aos portugueses que o bacalhau seria vendido a pataco o quilo, o que obviamente não foi cumprido, porque não podia efectivamente ser cumprido, e tudo era dito sem qualquer base honesta de estudo. As multidões deixam-se enganar com as promessas dos ambiciosos medíocres, deixam-se arrastar por sentimentos, deixam-se embalar por gestos e atitudes, por frases e palavras sonoras, acabando por se tornarem servas até à escravidão.
O sufrágio universal goza com as pessoas, faz troça delas, trata-as como
simples depositários de uma cruz que nada resolve, nem nunca
resolverá. É uma BURLA GIGANTESCA, um complemento indispensável às
eleições. Talvez por isso lhe chamem jogo eleitoral, pois todo o jogo admite batota, e no sufrágio universal há muita batota, mais do que as pessoas possam imaginar...
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