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A virtualidade VS. a palavra escrita

Como é possível ainda acreditar que o papel continuará a ser o grande suporte da palavra escrita e prever que a leitura perdurará como a mais poderosa fonte do saber e da inteligência?

Desdenho completamente do sorriso icónico dos que olham e imaginam o futuro através de um visor de uma qualquer máquina altamente sofisticada, portadora de uma realidade virtual aparentemente sem limites! E, ao mesmo tempo, sorrio! Mas na verdade, são muitos os factores para acreditar que esse futuro virtual não poderá ir avante. São muitas e boas as razões que tornam perenes as vantagens do livro, do jornal, da revista, tal como da simples fotocópia e das folhas impressas a partir de um computador.

Pergunto-me, muitas vezes, como será possível passar um bom momento a ler um romance ou um livro de investigação, ou um ensaio ou até uma peça jornalística olhando para um visor, agarrado a um pedaço de metal ou de plástico. Antevejo a resposta pronta dos cibercrentes: o livro electrónico já está aí para quem o queira! Mas, por outro lado, os cépticos não se ficam pelo fim anunciado do suporte em papel. Porquê ler? pergunta-se por aí, sabendo-se que estamos rodeados de imagens e de sons que nos informam e nos libertam para tantas outras formas de convivência e de lazer. 
Uma pergunta destas só pode partir de quem ignora ou finge ignorar as virtudes da leitura, assim como não se apercebem que concorrente com a leitura, só mesmo a disponibilidade de tempo para ler.

A palavra escrita, o papel e a leitura, têm o futuro assegurado porque formam um conjunto diferente e insubstituível. Cientistas como Ernst Popel ou intelectuais como Umberto Eco estão de acordo quanto ao reconhecimento da leitura como o factor mais estimulante do desenvolvimento da criatividade e da inteligência humana. Principalmente porque ler implica uma atitude activa e também porque o ritmo da leitura é individualmente adaptado ao ritmo do pensamento. O «papel» do papel, para além da flexibilidade e conveniência de uso que lhe é própria, é também segundo os investigadores dos mecanismos cerebrais, uma componente essencial do processo cognitivo e estimulante da leitura ao accionar e englobar funções tão elementares, e também tão importantes, como o tacto e o olfacto. 
Aliás, haverá sensação mais dinâmica e forte do que sentir entre os dedos a textura das folhas e o cheiro a novo das mesmas folhas de um livro? Não há, por muito que queiram nenhum visor pode substituir esses sensações.

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