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Os primórdios do ateísmo e a física quântica

Heraclito, Demócrito, Epicuro e Lucrécio foram os ateus da antiguidade clássica. Manifestavam, ou pretendiam manifestar, um plano alternativo representativo quer no campo moral assim como no campo dos fenómenos naturais. 
Nos séculos XVII e XVIII o ateísmo passou a ser visto como uma reacção contra o poder da religião organizada, isto é, das igrejas, especialmente, contra o poder da igreja de Roma e dos seus zelotas da inquisição.
A partir do século XIX o ateísmo conheceria um novo impulso, quando descobertas científicas vieram reforçar a convicção de que tudo podia ser explicado pela interacção das forças naturais,
contrapondo um materialismo irredutível a todos os idealismos que admitissem o sobrenatural.

Filósofos como Marx ou Nietzche, que proclamavam a morte de Deus, e polémicas como as suscitadas pela teoria da evolução das espécies proposta por Darwin permitiram a sedimentação de uma ateísmo teórico que teria expressão política no anticlericalismo radical dos jacobinos, quer nos filhos "mais puros" da revolução francesa, quer naqueles que protagonizaram a revolução russa.
Durante uma boa parte do século XX em que as maiores tragédias foram desencadeadas por totalitarismos ateus, como o nazismo e o comunismo, a evolução da ciência parecia estar a contribuir para o recuo do ateísmo radical, substituído por um agnosticismo que tolerava a fé religiosa e parecia ter desistido de tentar provar a inexistência de Deus ou a sua morte.
Para esta nova visão da vida e de Deus, muito contribuiu a Física Quântica e ao mesmo tempo, o velho sonho de "tudo prever" e "tudo explicar" voltavam a ser possíveis.

Einstein que não era um homem religioso, costumava brincar sobre a dificuldade de saber se, na história do universo, Deus jogara xadrez ou aos dados. Stephen Hawking, no seu livro "Uma breve história do tempo", tentava apresentar uma investigação à "mente de Deus".

Do lado da igreja, mas sobretudo da igreja de Roma, registava-se um movimento impulsionado pelo concílio Vaticano II, de reconciliação com a ciência, para o que contribuíram quer os trabalhos e reflexões de padres cientistas como o biólogo "Teillard de Chardin" e o astrofísico "George Gamow", quer os pedidos de perdão do longo papado de João Paulo II, quer por fim a (preocupação) ? de Bento XVI em sublinhar a boa convivência entre fé e razão.

Uma besta moderna como Richard Dawkins afirma implicitamente que, para além de não podermos encontrar provas da existência de Deus, podemos encontrar na beleza do universo, na sua harmonia grandiosa, um substituto. Nem Einstein foi tão longe. O criador da teoria da relatividade, que reconhecia não ter um Deus pessoal, também não procurava demonstrar a sua inexistência, e sugeria mesmo que seguíssemos um seu conselho: "mostrar reverência pela estrutura do mundo, na medida em que isso permitiria aos nossos insuficientes sentidos apreciá-lo". Einstein reconhecia também os limites da ciência para observar, medir e descrever a realidade e, por isso mesmo, dos seus limites para chegar a uma verdade irrefutável.
Também Carl Sagan, um grande astrofísico do século XX, se referia a isto de outra forma. Costumava ele dizer que as variedades da experiência científica relacionavam-se com uma visão pessoal da procura de Deus, mas que a ausência de provas não é prova de ausência.

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